quarta-feira, 3 de julho de 2013

Nenhum amor é meu.

Há pouco li mais um bom texto de Daniel Bovolento - Do amor que não é meu, http://bit.ly/12rWz6X, e é interessante quando a leitura nos remete ao passado de nossos atos, pensamentos e aprendizados. Louco mesmo porque muitas das nossas experiências ou a falta delas, nos leva a ações nem sempre exitosas para conosco, principalmente. Lembro o quanto fiquei puto por ver meu amor esvaindo não tanto pelas palavras de separação, mas pelos motivos ditos e não ditos. A lembrança pareceu-me como a trajetória do projétil que me atingiu em cheio, tanto pelas coisas que eu talvez não tenha feito quanto por aquelas que fiz. Mira boa essa... A culpa ainda parecia ser minha.

Onde errei? Essa questão me afrontou por muito tempo - tempo demais por sinal - e na busca de respostas encontrei-me despreparado para o amor, para a convivência, para o entendimento. Num primeiro momento as respostas acentuavam a minha culpa e agravavam meu desconforto pessoal, principalmente porque eu acreditava que as pessoas tinham que ser felizes. Que eu era feliz. Mas a sensação de perda, o espaço vazio, a substituição, ser preterido, assim como outros tantos sentimentos desse tipo, foram muito dolorosos, tanto que pareceu-me durante muito tempo que eu havia criado fantasmas, sombras, culpados, inimigos... A vida virara-me do avesso. Meu amor não era mais meu!

Aconteceu entre a percepção e o fato em si que não entendi. Naquele momento sentia-me como um cão que caído de um caminhão em plena rua vinte e cinco de março – é pisoteado, largado e esquecido. Esqueci-me dos sonhos, das metas pessoais, das construções à dois... Tudo relegado e abandonado na estrada. Sem rumo, a dor era mais importante. O tempo passou, mas não tão rápido como eu gostaria, mas com tempo suficiente para que eu pudesse olhar aquele momento e perceber o quanto tinha sido imaturo não só em termos de amor, mas em relação à minha própria capacidade de sobrevivência diante das coisas irreversíveis que nos acontecem.

- Tinha que mudar.
- Agarrar-me em mim, enfim... Era preciso mudar.
- Bem, mudei!

Novos amores, paixões, expectativas, sucessos e frustrações vieram e com eles sensações que triscavam a ferida cicatrizada rasgando-a para logo ser cauterizada novamente, tornando-se cada vez mais resistente. Assim, parece que nós nos regeneramos quando vivenciamos nossos acertos e erros da vida. Ficamos melhores do que éramos. O que parece uma perda irreparável num dado momento ou uma experiência frustrante torna-se uma alavanca que quando acionada dá potência ao crescimento pessoal, ao amadurecimento dos sentimentos, à ampliação dos sentidos, ao desejo de experimentar, à ousadia do arriscar e mesmo para se defender.

É desse aprendizado que alimentamos a melhoria da nossa autoconfiança e o fortalecimento da nossa autoestima. É da desconstrução daquilo que considerava meu amor que surge outro amor construído no entendimento, na aceitação clara e com um ritmo próprio. Um amor em que se dar não tem relação com receber ou com qualquer recompensa. Ao invés do egoísmo e do sentimento de posse o amor a si próprio. A disposição para amar por si e não pelo outro. Ultrapassar os limites do amor com todos os seus anseios e riscos. Amar sem a posse. O amor sem o apego e sem o querer pra si, mas porque é bom, gostoso, leve e me surpreende.

Não há mais amor para perder porque nenhum amor é mais meu ou jamais o será.

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