terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Um bom ano!


Mais um ano termina. O quinquagésimo sexto da minha vida. Um ano que começou com uma batida diferente, mais pesada e aos poucos foi ficando mais suingada, romântica e vibrante. O rock marcou o compasso, mas foram o jazz contemporâneo e o blues com uma pitada de bossa nova que fizeram a diferença e trouxeram mais equilíbrio ao caminho. Uma trilha sonora repleta de nuances e acordes inspirados.
Um ano de extremos sem dúvida. De pegadas leves e tranquilas a verdadeiros atoleiros. Foi um caminhar suado.
O pensar leve, um mantra pessoal, balançou diante de tanta turbulência, aguentou firme e no final juntou-se com a suavidade e prevaleceram. Foi difícil, mas é muito bom pensar leve e viver suavemente. O mantra continua.
Penso que todo ano novo é em si uma novidade. Afinal, nunca foi vivido antes. Da mesma maneira, todos os novos momentos em que vivemos são novidades em si também pelo mesmo motivo. Éramos outra pessoa no ano anterior, no momento anterior - mudamos a todo instante - contudo, este foi um ano forte em termos de novidades.
De um lado a família que perdeu alguns membros queridos e estamos todos na expectativa da chegada de um novo membro - sobrinho ou sobrinha - a felicidade é geral. Os moleques, cada um de seu jeito estão crescendo e amadurecendo (que felicidade!). Meu coração que vinha meio capenga, macambuzio, fora do eixo e assim, meio que enroscado em antigas canções encontrou outro caminho pra ser feliz e há muita alegria, luz, amor e prosperidade no horizonte.
Um ano bom e de excelente safra em que toques de café, carvalho envelhecido, uvas de várias procedências e fragrâncias florais pouco adocicadas harmonizaram noites, encontros, carinhos, aprendizados e sonhos. Os tintos encheram a mesa de alegria e as boas companhias, lembranças deliciosas, bons papos, histórias bacanas e perspectivas interessantes lançaram bons presságios para o futuro.
Os brancos vieram brindar a alegria, a paz e a vida.
Um ano de comidinhas boas na mesa, na cama, no chão, no tapete, na rua e nas alturas, na melhor companhia, fizeram-me viver uma vida cheia e rica de vida. Foi um ano em que a cumplicidade, respeito, paixão, descobertas e muita amizade com seus sabores variados e diferentes trouxeram diversidade à minha vida, além de pratos deliciosos.
Todo ano que chega traz a sensação de que todos os problemas serão resolvidos. Há muita esperança e expectativa entre as pessoas. Tal como um farol à entrada da baía, o ano chega iluminando pedras, sinalizando encruzilhadas e obstáculos, apontando oportunidades e onde aportar.
Esse ciclo constante de viradas, que independem a nossa vontade, é carregado de simbologia, promessas, pensamentos positivos, juras, enfim, marcos de recomeço em que as pessoas buscam zerar algumas coisas para iniciar outras e seguir adiante, como na frase de Chico Xavier - “embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”, faço do finalzinho o manifesto que proponho para o ano que chega e para sempre na vida - começar agora e continuar firme na construção de um novo fim - melhor em todos os sentidos para si mesmo e para todos com quem nos relacionamos.
Que esse novo ano traga serenidade, consistência, ousadia e firmeza na decisão de diminuir o peso das agendas em nossa vida. Que os compromissos inadiáveis e urgentes, bem como as coleiras e quadrados sejam descartadas para podermos compartilhar mais sentimentos, emoções, vivências, experiências e toda sorte de coisas que quisermos.
Um ano sem aquela loucura de correr de um lado a outro; de datas pra isso ou aquilo; de ter que fazer isso senão aquilo; enfim, um ano de muita leveza, suavidade, diversidade, aprendizados, amizades, boas safras, suingue, desapego, amor, sexo bom, comidas deliciosas, novidades, viagens, descanso e tudo mais para tornar a nossa vida melhor para nós mesmos.
Quero surpreender-me com o que receber.
Um bom ano sempre!

João Gambini
31/dezembro/201

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Cuidado com os microfones!!!



Falar o que se pensa requer cuidado, mas também é necessário e fundamental para nossa vida, afinal o que seríamos se não pudéssemos expor nossas ideias, opiniões e vontades. Como eu há muitas pessoas que gostariam de ter um bom ouvinte ou um daqueles sacos de boxe para dar muitos socos e chutes para aliviar a tensão e no mais das vezes, o estresse do convívio.

Segundo algumas pessoas o falar abertamente sobre qualquer assunto pega mal, cria rótulo, põe carimbo na testa, ficamos “mal na fita” ou muito mal falados... Mesmo assim há muitos que dizem terem se libertado dessas alcunhas apenas por conseguirem expor suas ideias. Acho isso fantástico porque ao longo da vida tive a experiência - boa e ruim - de acumular muitos rótulos e carimbos que vem acompanhando há um bom tempo e me ensinando muito sobre convivência e superação.


Seja para sentir-se autoconfiante, seja por desencargo de consciência, decidir por expor suas ideias e opiniões pessoais requer coragem. Ainda assim, e cheio de receios, resolvi expor e acabei exposto. É engraçado pensar nesses receios e ao mesmo tempo falar deles. Começo a escrever essas confissões, mesmo que fragmentadas e jogadas na mesa como peças de quebra-cabeças para ver se tomam alguma forma, um registro ou esboço do meu jeito de ser e de minha passagem neste tempo. 

Bocca Della Verità - Roma/2012
Entretanto, e no geral, sei que em matéria de confissões costumamos supervalorizar nossas qualidades e minimizar nossos defeitos. Sempre na ideia de que fazendo isso nos tornamos melhores. Talvez! Acredito até que essas confissões, se tratadas como verdades verdadeiras, podem ser uma ótima forma de não nos enganarmos e de mostrarmos um pouco mais do que somos de fato e não apenas um punhado de preconceitos, achismos e regulações que nossas coleiras ou reservas nos impõem.


Às vezes, há tantas incógnitas sobre o que sinto que minhas ideias se embolam e se repartem ao mesmo tempo, numa dança instável, irrequieta e confusa. Aquelas mais estáveis, inteligíveis e aparentemente organizadas logo ganham corpo e descrição. E aquelas picadas e aos pedaços, tento costurá-las, dar-lhes ritmo e destino, para pensar nelas ou deixar pra lá. Let it be!!!


Entre a existência de alguma estabilidade e de muita bagunça, um caldeirão de ideias e pensamentos vai cozinhando os ingredientes formando um caldo ou um esboço daquilo que sou ou mesmo do meu dia a dia. Uma bela oportunidade nasce desse caldo com tudo de mim para ser jogado na parede e ver se da colisão de quereres, desejos e possibilidades surgem novas ideias, possibilidades e caminhos ou um eu diferente, recauchutado, reciclado, reutilizável...


Quiçá um euzinho seminovo, com pneus novos e licenciado. Falar abertamente o que se pensa é muito bom!


Mas cuidado com os microfones!!!
João Gambini
da série: Fragmentos de pedaços desconexos
Maio/2013

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Nenhum amor é meu.

Há pouco li mais um bom texto de Daniel Bovolento - Do amor que não é meu, http://bit.ly/12rWz6X, e é interessante quando a leitura nos remete ao passado de nossos atos, pensamentos e aprendizados. Louco mesmo porque muitas das nossas experiências ou a falta delas, nos leva a ações nem sempre exitosas para conosco, principalmente. Lembro o quanto fiquei puto por ver meu amor esvaindo não tanto pelas palavras de separação, mas pelos motivos ditos e não ditos. A lembrança pareceu-me como a trajetória do projétil que me atingiu em cheio, tanto pelas coisas que eu talvez não tenha feito quanto por aquelas que fiz. Mira boa essa... A culpa ainda parecia ser minha.

Onde errei? Essa questão me afrontou por muito tempo - tempo demais por sinal - e na busca de respostas encontrei-me despreparado para o amor, para a convivência, para o entendimento. Num primeiro momento as respostas acentuavam a minha culpa e agravavam meu desconforto pessoal, principalmente porque eu acreditava que as pessoas tinham que ser felizes. Que eu era feliz. Mas a sensação de perda, o espaço vazio, a substituição, ser preterido, assim como outros tantos sentimentos desse tipo, foram muito dolorosos, tanto que pareceu-me durante muito tempo que eu havia criado fantasmas, sombras, culpados, inimigos... A vida virara-me do avesso. Meu amor não era mais meu!

Aconteceu entre a percepção e o fato em si que não entendi. Naquele momento sentia-me como um cão que caído de um caminhão em plena rua vinte e cinco de março – é pisoteado, largado e esquecido. Esqueci-me dos sonhos, das metas pessoais, das construções à dois... Tudo relegado e abandonado na estrada. Sem rumo, a dor era mais importante. O tempo passou, mas não tão rápido como eu gostaria, mas com tempo suficiente para que eu pudesse olhar aquele momento e perceber o quanto tinha sido imaturo não só em termos de amor, mas em relação à minha própria capacidade de sobrevivência diante das coisas irreversíveis que nos acontecem.

- Tinha que mudar.
- Agarrar-me em mim, enfim... Era preciso mudar.
- Bem, mudei!

Novos amores, paixões, expectativas, sucessos e frustrações vieram e com eles sensações que triscavam a ferida cicatrizada rasgando-a para logo ser cauterizada novamente, tornando-se cada vez mais resistente. Assim, parece que nós nos regeneramos quando vivenciamos nossos acertos e erros da vida. Ficamos melhores do que éramos. O que parece uma perda irreparável num dado momento ou uma experiência frustrante torna-se uma alavanca que quando acionada dá potência ao crescimento pessoal, ao amadurecimento dos sentimentos, à ampliação dos sentidos, ao desejo de experimentar, à ousadia do arriscar e mesmo para se defender.

É desse aprendizado que alimentamos a melhoria da nossa autoconfiança e o fortalecimento da nossa autoestima. É da desconstrução daquilo que considerava meu amor que surge outro amor construído no entendimento, na aceitação clara e com um ritmo próprio. Um amor em que se dar não tem relação com receber ou com qualquer recompensa. Ao invés do egoísmo e do sentimento de posse o amor a si próprio. A disposição para amar por si e não pelo outro. Ultrapassar os limites do amor com todos os seus anseios e riscos. Amar sem a posse. O amor sem o apego e sem o querer pra si, mas porque é bom, gostoso, leve e me surpreende.

Não há mais amor para perder porque nenhum amor é mais meu ou jamais o será.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

O sopro e a claridade

No início tudo era escuro. Poucos se aventuravam por aqueles caminhos à noite e quando o faziam traziam consigo armas, defesas e toda sorte de bugigangas que os ajudassem a sentirem segurança. Era tão escuro aquele caminho que toda luz era aprisionada assim que brilhasse. Velas, lanternas, fogueiras e tudo o que brilhasse sucumbia àquela escuridão sem fim. Até os vagalumes sofriam ali. Vez por outra que eu tentava segui-los percebia seu esforço frente àquela barreira intransponível feita de um emaranhado de raízes, troncos, galhos caídos, lembranças, dores, tristezas, frustrações, insucessos... Era quase um poço sem fundo, talvez mais para um buraco negro, contudo este está no espaço que também é muito escuro, mas que brilha assustadoramente com tantas estrelas, astros, quasares, constelações e galáxias. Uma verdadeira escuridão iluminada.
Não aquele caminho estava mesmo mais para um poço sem fundo do que para um buraco negro. E na medida em que nos aventurávamos a seguir por ali sentíamos como que algo pegajoso, que nos retia, nos segurava, numa tentativa de impedir o caminhar. Para cada passo um movimento de energias gigantesco era despendido quase que exaurindo as forças necessárias para o próprio caminhar e sobreviver. Aos poucos e bem lentamente conseguíamos nos deslocar e vencíamos, passo a passo, pedacinho a pedacinho, aquelas distâncias na busca de luz, claridade, transparência, cores, iluminação, sabedoria... O mundo depois da escuridão era uma Meca que todos conheciam e buscavam, mas somente poucos haviam conseguido.
A fé era nossa energia. Ela nos alimentava e ao acreditarmos nisso retroalimentávamos formando um ciclo contínuo de motivação, inspiração, desejo, atitude e vontade de mudança e de um momento melhor. A batalha entre a fé e a escuridão era permanente, constante e vigorosa. Quantas vezes beirei a desistência. Quase parei tudo e voltei, abdicando de minha luta, das conquistas, do reconhecimento do meu valor em prol de um pouco de sossego, acomodação... Quase! Mas não desisti. Eu não conseguiria! Sou inquieto demais pra isso e tenho muita fé em mim e nos valores em que acredito. Mas isso acontece com todo caminhante, peregrino e guerreiro, há momentos que só um tapinha nas costas não resolve. Precisamos de energia graúda, robusta, parruda, pra encher nossas mochilas e cantis pra que a caminhada ganhe nova vida, sabor, nos inspire e nos empurre na direção que escolhemos.
Essa escuridão consumia minhas energias. Vivia mais tempo no escuro que no claro, mais noite que dia, meus sentidos já funcionavam melhores entre as trevas e a escuridão do que na claridade. Aliás, na claridade eu me perdia nos detalhes, nas diferenças, nas cores e o mais interessante, na claridade havia ar, muito ar. O vento na forma rajadas rápidas ou mesmo nas suaves brisas banhava meu rosto como que acaricia a pele com um leve toque e que fazendo isso aguça os sentidos e as emoções. Mas esses tempos de claridade e muito ar eram poucos, a maior parte do tempo eu caminhava pela escuridão e sentido a respiração difícil, pesada, como se tivesse corrido muitos quilômetros, mas só caminhado poucos metros. Aquela escuridão me oprimia e me tirava o fôlego. Com o passar do tempo e alguns chacoalhões da vida, meio que tombando de lado. Era essa a impressão. Parecia que eu tinha capotado, enfim, com o caminhar comecei a perceber que aquela tão temida escuridão parecia sofre de algum mal, porque eu respirava melhor que antes e sentia um leve calor na face. Isso era muito diferente porque antes eu sentia muito frio, vivia agasalhado, não havia luz suficiente para me aquecer. Mas começava a perceber que não precisava mais de tanto agasalho. Havia algo de diferente acontecendo e que me aquecia.
Aos poucos, olhando lá no horizonte, notei uma luz estranha, coisa que não via há séculos e eu sentia que dali vinha o calor que eu senti. Aquilo mexeu comigo um tanto e tão profundamente que rapidamente me pus a seguir aqueles lampejos e ver o que estava acontecendo. Havia algo de novo e eu precisava ver com todos os meus sentidos. Mas a caminhada não era fácil, ao contrário, a cada passo dado em direção à luz eu tinha a sensação que sequer tinha saído do lugar.
Os obstáculos são assim mesmo. Eles costumam mudar de lugar para que pensemos que não os superamos. Precisamos ser mais espertos que eles e usar de nossa sabedoria e principalmente dos anos de tentativa de vencer a escuridão para sobrepujá-los. Alguns obstáculos são de fato muito pesados e ocupam muito espaço e é muito difícil lidar com eles, mas não são insuperáveis. No entanto, requerem um pouco mais de malícia, dissimulação, um pouco de fantasia e muitas vezes com uma história bem contada, aqueles obstáculos se encantam e acabam simplesmente deixando de existir ou deixando de nos impedir. Mas há também aqueles obstáculos sutis, que muitas vezes não damos bola e acabamos atolados até os dentes. Para esses, toda astúcia deve ser empregada porque além de facilmente passarem desapercebidos, eles são muito rápidos na troca de papéis para nos enganarem novamente. Quão rápido forem mais rápidos temos de ser. E há aqueles obstáculos que nos ajudam, isto é, eles nos servem como escudo, álibi, desculpa e mesmo como nossos cúmplices para que superemos não só a eles como os outros obstáculos.
Tenho muita admiração por esses últimos e sempre os considero meus aliados. Tanto que foi num deles que me apoiei para tentar chegar mais perto daquelas luzes que me encantavam e me intrigavam. Ao escorar meu pé sobre aquilo que parecia uma rocha senti firmeza suficiente para colocar meu peso e tentar identificar a distância que me separava das luzes ou daquilo que pareciam luzes. Surpreende-me o fato de havia um buraco imenso aberto no meio da escuridão de onde por onde ramificação raios de luz. Uma clareira havia sido aberta no caminho e a luz estava entrando e ficando. A cada passo dado naquela direção mais quente era a temperatura, havia uma brisa que deixava minha respiração mais solta, leve e muito limpa. Não sentia cheiros ruins, mas um perfume vinha em minha direção. Afobei-me!
Eu sabia que o lugar era logo ali. Eu vi lá de longe. Mas eu queria muito tudo aquilo e só me importava chegar. Uma ansiedade abateu-me e tive de controlá-la porque comecei a tropeçar, me machucar, trombar com galhos e raízes. Parei! Precisava ficar ali um pouco quieto e respirar suavemente aquela brisa que me acariciava os sentidos para me acalmar e quem sabe me concentrar na busca do meu objetivo. Algum tempo depois, subi no galho mais robusto que achei e fiquei mais calmo porque estava na direção certa. Pouco a pouco, a viagem me trazia novos sentimentos, emoções e sonhos que há muito nem sonhava mais ter ou sonhava, mas não acreditava que poderia vir a ter... Pensava em como seria viver com total claridade, se seria fácil me acostumar ou se ela me faria bem... Pensamentos ecoando e minhas pernas me conduzindo pelo caminho. Delírios eventuais entre cortados por surtos ora de realidade, ora de medo... Acho que muita luz dá nisso mesmo. Depois de muito tempo na escuridão qualquer intensidade de luz nos cega, nos limita e nos impede de ver o nosso entorno quase tanto ou do mesmo jeito como na escuridão. Louco isso, mas acontece.
Entre delírios, sonhos e acasos, aliás, muito mais de acasos, cheguei à clareira parecendo um viajante que cruzara o deserto e encontra um lago para saciar sua sede. Entrei de cabeça, saltei, ou melhor, mergulhei naquela claridade. Apaixonei-me por ela. Era tudo que sonhara e queria. Até a intensidade era suficiente, não me cegava. Sentia-me iluminado. Em meio à escuridão que envolvia o caminho encontrei uma clareira que iluminava tudo ao seu redor e modificava os tons escurecidos revelando cores que até então estavam adormecidas, escondidas ou sufocadas pela falta de luz. Entes de todas as partes vieram saudar e brindar aquele acontecimento. E, por mais que eu buscasse entender como aquilo tinha acontecido, menos parecia importante me preocupar com isso, pois a felicidade que eu sentia me satisfazia. Ao olhar pra trás vi que o caminho tinha muitas cores e agora, eu sabia que apesar da escuridão, elas estavam ali presentes. Pouco a pouco minhas experiências eram iluminadas como as ruas no finalzinho da tarde ante ao crepúsculo, mostrando seus sentidos e provocando novas sensações e desejos. Tudo me inspirava. Tudo me inspira.
A clareira trouxe os ventos e abriu espaço para que soprassem em todas as direções inspirando vontades, ideias, desejos, histórias, canções, olhares, cheiros, ideais, palavras, sonhos e tudo do que somos feitos. A mesma clareira iluminou a minha vida e abriu espaço para o amor. Um ponto de encontro entre o sopro que dá vida e a claridade que salva da escuridão.
João Gambini
16/06/2013
São José dos Campos

domingo, 28 de abril de 2013

Doce Outono



Ela passou como quem não estivesse nem aí para mim ou qualquer outra pessoa a sua volta. Isso é dela! Sua elegância e empatia extrapola sua consciência. Pensei em lhe convidar, mas, tímido, apenas sorri e lhe cumprimentei. Seu sorriso lindo, cabelos soltos, olhar penetrante cruzou meu caminho, naquela tarde de outono. Era certo que aquele dia de sol e temperatura amena, tipicamente da estação, me surpreendeu muito além do que sequer imaginava. Era um dia qualquer e minha mente ocupada com tudo o que tinha pra fazer. Sem que qualquer controle o tempo parou ao meu redor para vê-la passar e ao seu sorriso.
Simpática, franca e sensualmente discreta me cumprimentou causando uma hecatombe interior. Algo desmoronou dentro de mim. Talvez construções velhas, teias de sonhos adormecidos e olhares perdidos ou pensamentos enraizados que foram arrancados para um novo cultivo. Senti-me mais leve, havia enfim uma clareira por onde a luz passava e banhava recantos escurecidos pelo tempo e pelas lembranças amontoadas.
Definitivamente, não foi um dia qualquer. Em meio ao turbilhão de afazeres uma energia boa aparece e sua vibração faz trepidar as cordas e soar canções que antes estavam caladas, quietas. Havia silêncio e não se fez barulho, mas um tilintar de bambus ao sopro do vento com seu ritmo suave abrandou meu coração. Um suspiro quase escapou na frente dela. Por pouco não me delatei. Ato falho ou desejo contido - não sei, mas me guardei.
Ela sempre passou e me lembro de muitos daqueles momentos. Mas desse dia em diante seu aroma me tirou do chão ou me tirou o chão. Não sei ao certo, só que sai flutuando e numa vertigem desgovernada segui o rastro marcado pelo seu perfume encantador, mágico. A Lua linda esbanjava vitalidade e poder. Seu feitiço me inebriou e me aprisionou.

Quis encontrá-la, mas o tempo e estrada já haviam sido percorridos e muito estava pronto. O novo, a mudança, o risco são partes da vida, mas algo muito maior reina e cerca, tornando qualquer acesso difícil. Talvez o mesmo tempo possa conseguir tempo para que haja tempo.
Mesmo assim, só a vi novamente algum tempo depois quando parecia perdido em minhas lembranças. Foram sua gentileza e beleza interior que me resgataram. Eu precisava que ouvissem meu coração e não meus lábios ou minhas letras, mas que enxergassem minha alma. Ela estendeu a mão e a tomei em meus braços.
Abracei com calor e muito carinho. Deixei minhas amarras, agendas, compromissos e larguei a coleira. Joguei tudo de lado para tomar aquele tempo de maneira intensa e completa. Não queria mais do que aquilo. Ninguém se encontrou ou tão pouco se perdeu. Apenas caminhos que se cruzaram e almas que se tocaram. Um elo foi criado juntando a amizade, bom humor, conversas e mais conversas, pensamentos que querem o bem e confissões que acalentam.
Sempre que nos vemos a energia se equilibra e a sintonia se afina. São como duas taças de vinho que ao toque transformam-se em passes mágicos para outro tempo, outro universo, talvez o do sonho que mesmo não se realizando nesse tal mundo concreto se realizam na eternidade.
João Gambini

sexta-feira, 29 de março de 2013

Escuto o apito.


Andei pouco de trem e viajei quase nada, quer dizer, andei mais no trecho de Osasco para a Vila Olímpia ou para a Barra Funda (Metrô também é trem), fui a São Roque no tempo que eu estava no Exército e umas poucas viagens de trem na Inglaterra e Itália recentemente - só! Mas sempre morei perto de uma ferrovia e escutava, como escuto até hoje, eles passarem na madrugada, normalmente trens de carga. 

Adoro passear e viajar de trem.

A simbologia do trem é muito forte e me identifico muito com ela. A movimentação por sobre os trilhos que dá aquela sensação de flutuação, isso sem contar o barulho dos dormentes e o som dos trilhos que aprisionam as rodas em uma linha constante. Além do maquinista, o bilheteiro, a locomotiva, os vagões, os passageiros, a janelinha, a paisagem, o som do sino, a fumaça das antigas locomotivas, o carvão que abastece a fornalha, enfim, há muitos sinais do mundo do trem que me fascinam e que se tornaram metáforas interessantes no mundo dos negócios e também para o dia a dia das pessoas. Como dizem os mineiros, êta trem bão, sô!

No cinema o trem é um participante assíduo e acho que muito por causa disso, as viagens de trem tornaram-se um tipo de mito que suscita causos, contos, histórias, cenas, pensamentos, filosofia, aventuras, sabedoria, encontros, desencontros e muitas chegadas e partidas, sim, afinal, essa é a razão da existência desse veículo - levar e trazer pessoas. 
Aliás, "nos levar para algum lugar" é uma bela razão de ser!

Peter Drucker, um guru global do marketing escreveu o “O Trem da Linha Norte” numa alusão aos conhecimentos que precisam ser reunidos para levar as ações planejadas ao resultado esperado. Claro que não é esse o resumo do livro, mas isso que ele escreveu, além de muitas outras coisas, encaixa-se perfeitamente em nossa vida pessoal. Pense, nossas vidas são como os trens encaixados nos trilhos que compõem as linhas e caminhos por onde o trem passa, segue, existe...  

Embarcamos todos os dias em nosso trem e seguimos viagem por entre montanhas, penhascos, rios, cidades, vilas, nuvens, chuvas, enfim, passamos pela vida seguindo a nossa linha em direção à próxima estação. Acredito que a maioria das pessoas, assim como eu, procura ser sempre o maquinista do seu trem. Alguns querem mais, querem ser o maquinista de todos os trens e há outros que até conseguem conduzir muitos com sabedoria e compreensão, mas há aqueles que conduzem pela força e de maneira estúpida, sem se importarem com os passageiros. De todo modo, ser maquinista nunca é fácil.   

O mais difícil, talvez, não é ser maquinista ou passageiro, mas estar na posição de qualquer um deles sozinho lá na frente, sem alguém com quem comemorar ou compartilhar o caminho. Acredito que viajar sozinho é bacana mas a chave para se viver bem reside na ação de compartilhar o amor, a amizade, a tolerância, a tristeza, a viagem e o que mais se desejar.

Já passei por um bocado estações e nelas encontrei pessoas cujas influências, em maior ou menor intensidade, foram muito importantes para a minha vida. Pessoas maravilhosas que foram seguindo comigo e acabei seguindo-as por um caminho e outro, por muito ou pouco tempo, inclusive aquelas que por todos os motivos ou mesmo sem nenhum motivo acabaram ficando pelo caminho e nunca mais as encontrei. Algumas vezes nos perdíamos e em outras nos encontrávamos para rir, conversar, debater, matar a saudade, tomar um vinho... 

A verdade é que as pessoas com quem cruzei caminhos marcaram de maneira profunda a minha vida e fizeram toda a diferença naquilo que sou hoje. Foram muitos trechos da estrada, muitos lugares e pessoas sempre trocando experiências e aprendizados, marcamos muitas trilhas.

Mas passava um tempo e logo o trem aparecia para nos levar para outra estação e mais curvas, montanhas, chuvas, entardeceres e tudo mais. Depois de tanto tempo, estações, pessoas e saudades, fica a certeza de que nos, eu no caso, sempre nos transformamos e seguimos adiante a cada estação.

Bem, o trem vem vindo! Escuto o apito! Uma nova viagem está para começar. A curiosidade cresce e o coração bate mais rápido só em imaginar como será a próxima estação e o que vou encontrar por lá. Sinto que terei bons encontros com os amigos, a curtição dos filhotes, os almoços em família e quem sabe o calor de um novo amor... Agora, pensando bem, talvez fosse o caso de seguir um pouco mais e ir mais longe,  deixar de ser o maquinista só para escutar o apito e quem sabe, pegar o primeiro trem e seguir sem rumo. 

Isso! É hora de botar o pé na estrada e avisar o maquinista para pegar forte porque este novo passageiro - eu, quer uma viagem com emoção. Quero sentar na janelinha para observar mais, rir mais, sentir mais, respirar mais livremente e viver intensamente cada paisagem, gosto, cheiro, lugar, diferenças, semelhanças, enfim, viver tudo aquilo que essa jornada puder proporcionar sem me preocupar se a próxima estação está chegando ou se vai chover.

Quero uma viagem para viver mais... Vamos?

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Seu olhar, muitos significados.


Entre os olhares do mundo o seu me deixa leve, sem chão, perdido e desorientado. Apaixonado.

A natureza é sábia quando elege alguém para emanar tanta tranquilidade, carinho e beleza interior. Linda.

Se há algo importante nesta noite de temperatura amena é o quanto o calor do seu olhar me esquenta e alimenta minha imaginação. Me inspira.

Se há algo a ser lembrado sempre é a luz do seu olhar que clareia minha alma e faz brilhar os meus olhos. Incendiá-los.

Se há algo a ser celebrado é o carinho, a amizade e afeição que temos um pelo outro.

Se há uma música a ser ouvida, curtida e dançada é aquela que embala os românticos. Dança comigo.

Se há um desejo que clama para ser atendido é o meu de dizer-te o quanto te quero. Muito.

Se há um lugar onde eu queria estar é ao seu lado. Bem perto.

Se há um futuro que vale a pena planejar com alguém é com você. Vamos juntos.

Se há mais algum verso a ser dito o será pessoalmente. Te quero.

Se há uma coragem que não me falta é a de querer ter você comigo. Sempre.

Embora com um que de clichê, essas palavras são a expressão de meus sentimentos que afloram nesse momento e que encontram nessa escrita a possibilidade e oportunidade de serem lidas, curtidas, copiadas, sentidas... Correspondidas.

Seu olhar. Muitos significados.

João Gambini