quinta-feira, 18 de julho de 2013

Cuidado com os microfones!!!



Falar o que se pensa requer cuidado, mas também é necessário e fundamental para nossa vida, afinal o que seríamos se não pudéssemos expor nossas ideias, opiniões e vontades. Como eu há muitas pessoas que gostariam de ter um bom ouvinte ou um daqueles sacos de boxe para dar muitos socos e chutes para aliviar a tensão e no mais das vezes, o estresse do convívio.

Segundo algumas pessoas o falar abertamente sobre qualquer assunto pega mal, cria rótulo, põe carimbo na testa, ficamos “mal na fita” ou muito mal falados... Mesmo assim há muitos que dizem terem se libertado dessas alcunhas apenas por conseguirem expor suas ideias. Acho isso fantástico porque ao longo da vida tive a experiência - boa e ruim - de acumular muitos rótulos e carimbos que vem acompanhando há um bom tempo e me ensinando muito sobre convivência e superação.


Seja para sentir-se autoconfiante, seja por desencargo de consciência, decidir por expor suas ideias e opiniões pessoais requer coragem. Ainda assim, e cheio de receios, resolvi expor e acabei exposto. É engraçado pensar nesses receios e ao mesmo tempo falar deles. Começo a escrever essas confissões, mesmo que fragmentadas e jogadas na mesa como peças de quebra-cabeças para ver se tomam alguma forma, um registro ou esboço do meu jeito de ser e de minha passagem neste tempo. 

Bocca Della Verità - Roma/2012
Entretanto, e no geral, sei que em matéria de confissões costumamos supervalorizar nossas qualidades e minimizar nossos defeitos. Sempre na ideia de que fazendo isso nos tornamos melhores. Talvez! Acredito até que essas confissões, se tratadas como verdades verdadeiras, podem ser uma ótima forma de não nos enganarmos e de mostrarmos um pouco mais do que somos de fato e não apenas um punhado de preconceitos, achismos e regulações que nossas coleiras ou reservas nos impõem.


Às vezes, há tantas incógnitas sobre o que sinto que minhas ideias se embolam e se repartem ao mesmo tempo, numa dança instável, irrequieta e confusa. Aquelas mais estáveis, inteligíveis e aparentemente organizadas logo ganham corpo e descrição. E aquelas picadas e aos pedaços, tento costurá-las, dar-lhes ritmo e destino, para pensar nelas ou deixar pra lá. Let it be!!!


Entre a existência de alguma estabilidade e de muita bagunça, um caldeirão de ideias e pensamentos vai cozinhando os ingredientes formando um caldo ou um esboço daquilo que sou ou mesmo do meu dia a dia. Uma bela oportunidade nasce desse caldo com tudo de mim para ser jogado na parede e ver se da colisão de quereres, desejos e possibilidades surgem novas ideias, possibilidades e caminhos ou um eu diferente, recauchutado, reciclado, reutilizável...


Quiçá um euzinho seminovo, com pneus novos e licenciado. Falar abertamente o que se pensa é muito bom!


Mas cuidado com os microfones!!!
João Gambini
da série: Fragmentos de pedaços desconexos
Maio/2013

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Nenhum amor é meu.

Há pouco li mais um bom texto de Daniel Bovolento - Do amor que não é meu, http://bit.ly/12rWz6X, e é interessante quando a leitura nos remete ao passado de nossos atos, pensamentos e aprendizados. Louco mesmo porque muitas das nossas experiências ou a falta delas, nos leva a ações nem sempre exitosas para conosco, principalmente. Lembro o quanto fiquei puto por ver meu amor esvaindo não tanto pelas palavras de separação, mas pelos motivos ditos e não ditos. A lembrança pareceu-me como a trajetória do projétil que me atingiu em cheio, tanto pelas coisas que eu talvez não tenha feito quanto por aquelas que fiz. Mira boa essa... A culpa ainda parecia ser minha.

Onde errei? Essa questão me afrontou por muito tempo - tempo demais por sinal - e na busca de respostas encontrei-me despreparado para o amor, para a convivência, para o entendimento. Num primeiro momento as respostas acentuavam a minha culpa e agravavam meu desconforto pessoal, principalmente porque eu acreditava que as pessoas tinham que ser felizes. Que eu era feliz. Mas a sensação de perda, o espaço vazio, a substituição, ser preterido, assim como outros tantos sentimentos desse tipo, foram muito dolorosos, tanto que pareceu-me durante muito tempo que eu havia criado fantasmas, sombras, culpados, inimigos... A vida virara-me do avesso. Meu amor não era mais meu!

Aconteceu entre a percepção e o fato em si que não entendi. Naquele momento sentia-me como um cão que caído de um caminhão em plena rua vinte e cinco de março – é pisoteado, largado e esquecido. Esqueci-me dos sonhos, das metas pessoais, das construções à dois... Tudo relegado e abandonado na estrada. Sem rumo, a dor era mais importante. O tempo passou, mas não tão rápido como eu gostaria, mas com tempo suficiente para que eu pudesse olhar aquele momento e perceber o quanto tinha sido imaturo não só em termos de amor, mas em relação à minha própria capacidade de sobrevivência diante das coisas irreversíveis que nos acontecem.

- Tinha que mudar.
- Agarrar-me em mim, enfim... Era preciso mudar.
- Bem, mudei!

Novos amores, paixões, expectativas, sucessos e frustrações vieram e com eles sensações que triscavam a ferida cicatrizada rasgando-a para logo ser cauterizada novamente, tornando-se cada vez mais resistente. Assim, parece que nós nos regeneramos quando vivenciamos nossos acertos e erros da vida. Ficamos melhores do que éramos. O que parece uma perda irreparável num dado momento ou uma experiência frustrante torna-se uma alavanca que quando acionada dá potência ao crescimento pessoal, ao amadurecimento dos sentimentos, à ampliação dos sentidos, ao desejo de experimentar, à ousadia do arriscar e mesmo para se defender.

É desse aprendizado que alimentamos a melhoria da nossa autoconfiança e o fortalecimento da nossa autoestima. É da desconstrução daquilo que considerava meu amor que surge outro amor construído no entendimento, na aceitação clara e com um ritmo próprio. Um amor em que se dar não tem relação com receber ou com qualquer recompensa. Ao invés do egoísmo e do sentimento de posse o amor a si próprio. A disposição para amar por si e não pelo outro. Ultrapassar os limites do amor com todos os seus anseios e riscos. Amar sem a posse. O amor sem o apego e sem o querer pra si, mas porque é bom, gostoso, leve e me surpreende.

Não há mais amor para perder porque nenhum amor é mais meu ou jamais o será.