domingo, 30 de maio de 2010

Sobre Amizades e Clipes

Diga-me o que representa um clipe para você?

Isso mesmo, é aquele objeto de metal que utilizamos para prender documentos uns aos outros, anotações a um papel, fotografias, enfim, usamos para guardar ou impedir que documentos e fotos ou outros papeis se percam. Uma espécie de suprassumo de organização. Quanto mais papel utilizamos mais clipes precisamos, e do seu concorrente também, o grampo de metal.

Numa analogia bacana, acredito que nas amizades acontece o mesmo, isto é, quanto mais amizades fazemos, mais clipes vamos usando para tê-las conosco. Como há amizades de todos os tipos temos a necessidade de clipes de diferentes tipos também. Se pudéssemos olhar aquelas pessoas que têm muitos amigos por uma lente tipo a visão de raios-X, veríamos elas cheias de clipes pelo corpo, cada um prendendo um papelzinho com os nomes ou fotos de seus amigos. Somos homens-clipes. Há muitas mulheres-clipes também!

Aqueles de poucos amigos, embora poucos, também seus clipes com as lembranças, imagens, notas, palavras, aromas, cheiros e lugares por onde passou. Os clipes nos mantém juntos mesmo que separados por diferentes razões, pelo tempo, por continentes, bairros, diferenças, enfim, a amizade, como os clipes que mantém juntos as coisas, mantém juntas as pessoas, que optam por curtir afinidades, alegrias, tristezas, novidades, lembranças, coisas comuns ou incomuns, com seus amigos.

Como as amizades, os clipes podem ser pequenos, coloridos, enferrujados, novos, velhos, grandes. Podem ser enganchados uns nos outros e formar uma corrente, como fazemos as nossas de amigos. Também podem ser usados para pendurar coisas ou ainda para prender a barra da calça.
Engraçado, acontece o mesmo com as amizades. Quantas vezes fazemos questão de segurar a barra de nossos amigos e outras tantas vezes, para não dizer sempre, cedemos nossos ombros para que se apóiem quando precisam, pois sabemos que cederão seus ombros para que possamos nos apoiar quando precisarmos.

Há ainda os clipes pequenos como algumas amizades; Os muito finos, os sofisticados e há os grandes e dourados; Há ainda aqueles que não seguram nada, estão tão desgastados que seu destino é servir para desobstruir algum buraquinho entupido e mesmo assim, acabam prestando alguma ajuda. Tenho certeza que há muitas outras utilidades para os clipes, assim como tenho certeza da infinidade de valores que as amizades nos proporcionam.

Não consigo nem imaginar quantas amizades eu tenho, mas sei que são muitas e todas muito importantes. Eu as carrego sempre comigo, o tempo todo, sutilmente presas a mim por clipes pequenos, leves e bem delicados para que nada as estrague, rasure ou ofenda. Vão a todo o canto comigo e me ajudam a fazer cada vez melhor as marcas nessa viagem chamada minha vida.

João Gambini

sábado, 22 de maio de 2010

Fechado para balanço



Uma amiga, por conta de tantos afazeres, titulou sua página do orkut, certa vez, com a seguinte frase: "fechada para balanço". Essa ideia ficou matutando em minha mente um tempão até que, de tanto irrequieto com o tema, pensei, puts, também tenho muitos momentos em que gostaria de fechar um tempo pra balanço, pra fazer ou não fazer nada. Parece o mesmo que dizer "para o mundo que eu quero descer", mas é diferente, não é uma necessidade de largar a mão de tudo porque se está com o "saco cheio", ou com a paciência esgotada, estressado, enfim, "se encheu". Não é disso que falo, falo da necessidade de se concentrar em uma ou outra coisa por um tempo prolongado e sem que o mundo cobre a sua parte de exclusividade sobre o meu tempo.

Penso nisso como um desejo pessoal muito forte e arrisco dizer que todos nós desejamos muito isso. Quantos não gostariam de poder ficar um pouco isolado do dia a dia para fazer o que mais gostam e sem ter que prestar conta desse tempo, ou ainda, para não fazer nada, ou refletir quieto e sem debates... Enfim, quanto mais o reflito sobre o assunto mais aumenta o meu desejo de arrumar um jeito de parar e dizer "peraí, preciso pensar melhor sobre o assunto".

Já parei muitas vezes e fui tomar um cafezinho com a ideia de clarear a mente. Mas fechar pra balanço, de fato eu ainda não fiz isso. Durante minha pós-graduação abdiquei vários dias de namorar e deixei de trabalhar três dias para terminar o meu TCC. Na época fui atrevido porque a vida que nos margeia não dá tempo e as pessoas têm expectativas difíceis de ser atendidas, principalmente quando estamos numa outra direção. Enfim, o que é pra ser um simples "peraí, já volto" transforma-se rapidamente numa guerra de justificativas e estranhamentos. A verdade é que ninguém gosta de ser preterido, por mais que isso não aconteça o tempo todo.

Dessas experiências, o sentimento que ficou gravado em meus hábitos foi que eu preciso sempre de uma parada. Um tempo do tipo "me deixa quieto um pouco" para terminar aquelas coisas que comecei que tenho enrolado para finalizar. Um momento mais introspectivo ou de concentração que não precise de assessoria externa, tão pouco a necessidade de explicar os porquês disso ou daquilo. Acredito que esses momentos "comigo mesmo" ou "para cuidar das minhas coisas" são pontos chaves ou essenciais para a valorização e manutenção da minha individualidade.

Tenho amigos que têm outras formas de fazer isso. Eles não param nunca e simplesmente vão realizando "as coisas do jeito que elas se apresentam, isto é, do jeito que veem, se resolvem".

Outros são mais radicais e se envolvem em grandes projetos com a intenção de conhecer a si mesmo, como fazer longas peregrinações, semanas de imersão em outras culturas ou retiros espirituais, treinamentos na selva, enfim, há muitas maneiras de se buscar entender o nosso mundo interior, o self, se entender, até para, talvez, compreender melhor o entorno, o mundo e os outros. Mas acho que estes mais param para fazer outras coisas que os levarão a conhecer-se melhor, diferente um pouco daquilo que falo. Talvez os resultados para cada um de nós sejam similares.

No caso da minha amiga, ela não queria se desconectar do mundo, bem, penso que foi isso, penso que ela só queria que seu mundo a compreendesse e desse um "tempo", caso ela não respondesse rapidamente. Acho que existem milhares de exemplos como o dela nesse mundo. A todo o momento nossas necessidades são suplantadas pelas demandas do mundo e nos vemos acuados pedindo "socorro" por um tempo para nós mesmos.

Às vezes penso que sou altruísta demais, eu ainda não consigo me concentrar tanto em mim assim, preciso rever isso! Treinar mais, quem sabe!

João Gambini