domingo, 28 de abril de 2013

Doce Outono



Ela passou como quem não estivesse nem aí para mim ou qualquer outra pessoa a sua volta. Isso é dela! Sua elegância e empatia extrapola sua consciência. Pensei em lhe convidar, mas, tímido, apenas sorri e lhe cumprimentei. Seu sorriso lindo, cabelos soltos, olhar penetrante cruzou meu caminho, naquela tarde de outono. Era certo que aquele dia de sol e temperatura amena, tipicamente da estação, me surpreendeu muito além do que sequer imaginava. Era um dia qualquer e minha mente ocupada com tudo o que tinha pra fazer. Sem que qualquer controle o tempo parou ao meu redor para vê-la passar e ao seu sorriso.
Simpática, franca e sensualmente discreta me cumprimentou causando uma hecatombe interior. Algo desmoronou dentro de mim. Talvez construções velhas, teias de sonhos adormecidos e olhares perdidos ou pensamentos enraizados que foram arrancados para um novo cultivo. Senti-me mais leve, havia enfim uma clareira por onde a luz passava e banhava recantos escurecidos pelo tempo e pelas lembranças amontoadas.
Definitivamente, não foi um dia qualquer. Em meio ao turbilhão de afazeres uma energia boa aparece e sua vibração faz trepidar as cordas e soar canções que antes estavam caladas, quietas. Havia silêncio e não se fez barulho, mas um tilintar de bambus ao sopro do vento com seu ritmo suave abrandou meu coração. Um suspiro quase escapou na frente dela. Por pouco não me delatei. Ato falho ou desejo contido - não sei, mas me guardei.
Ela sempre passou e me lembro de muitos daqueles momentos. Mas desse dia em diante seu aroma me tirou do chão ou me tirou o chão. Não sei ao certo, só que sai flutuando e numa vertigem desgovernada segui o rastro marcado pelo seu perfume encantador, mágico. A Lua linda esbanjava vitalidade e poder. Seu feitiço me inebriou e me aprisionou.

Quis encontrá-la, mas o tempo e estrada já haviam sido percorridos e muito estava pronto. O novo, a mudança, o risco são partes da vida, mas algo muito maior reina e cerca, tornando qualquer acesso difícil. Talvez o mesmo tempo possa conseguir tempo para que haja tempo.
Mesmo assim, só a vi novamente algum tempo depois quando parecia perdido em minhas lembranças. Foram sua gentileza e beleza interior que me resgataram. Eu precisava que ouvissem meu coração e não meus lábios ou minhas letras, mas que enxergassem minha alma. Ela estendeu a mão e a tomei em meus braços.
Abracei com calor e muito carinho. Deixei minhas amarras, agendas, compromissos e larguei a coleira. Joguei tudo de lado para tomar aquele tempo de maneira intensa e completa. Não queria mais do que aquilo. Ninguém se encontrou ou tão pouco se perdeu. Apenas caminhos que se cruzaram e almas que se tocaram. Um elo foi criado juntando a amizade, bom humor, conversas e mais conversas, pensamentos que querem o bem e confissões que acalentam.
Sempre que nos vemos a energia se equilibra e a sintonia se afina. São como duas taças de vinho que ao toque transformam-se em passes mágicos para outro tempo, outro universo, talvez o do sonho que mesmo não se realizando nesse tal mundo concreto se realizam na eternidade.
João Gambini