Andei pouco de trem e viajei quase nada, quer dizer, andei mais no trecho de Osasco para a Vila Olímpia ou para a Barra Funda (Metrô também é trem), fui
a São Roque no tempo que eu estava no Exército e umas poucas viagens de trem na Inglaterra e Itália recentemente - só! Mas sempre morei perto de uma ferrovia e escutava, como escuto até hoje, eles passarem na madrugada, normalmente trens de carga.
Adoro passear e viajar de trem.
A simbologia do trem é muito forte e me identifico muito com ela. A
movimentação por sobre os trilhos que dá aquela sensação de flutuação, isso sem
contar o barulho dos dormentes e o som dos trilhos que aprisionam as rodas em
uma linha constante. Além do maquinista, o bilheteiro, a locomotiva, os vagões, os
passageiros, a janelinha, a paisagem, o som do sino, a fumaça das antigas
locomotivas, o carvão que abastece a fornalha, enfim, há muitos sinais do mundo do trem que me fascinam e que se tornaram metáforas interessantes no mundo dos negócios e também para o dia a dia das pessoas. Como dizem os mineiros, êta trem bão, sô!
No cinema o trem é um participante assíduo e acho que muito por causa
disso, as viagens de trem tornaram-se um tipo de mito que suscita causos,
contos, histórias, cenas, pensamentos, filosofia, aventuras, sabedoria,
encontros, desencontros e muitas chegadas e partidas, sim, afinal, essa é a razão da
existência desse veículo - levar e trazer pessoas.
Aliás, "nos levar para algum lugar" é uma bela razão de ser!
Aliás, "nos levar para algum lugar" é uma bela razão de ser!
Peter Drucker, um guru global do marketing escreveu o “O Trem da Linha
Norte” numa alusão aos conhecimentos que precisam ser reunidos para levar as
ações planejadas ao resultado esperado. Claro que não é esse o resumo do livro,
mas isso que ele escreveu, além de muitas outras coisas, encaixa-se
perfeitamente em nossa vida pessoal. Pense, nossas vidas são como os trens
encaixados nos trilhos que compõem as linhas e caminhos por onde o trem passa, segue,
existe...
Embarcamos todos os dias em nosso trem e seguimos viagem por entre
montanhas, penhascos, rios, cidades, vilas, nuvens, chuvas, enfim, passamos
pela vida seguindo a nossa linha em direção à próxima estação. Acredito que a maioria
das pessoas, assim como eu, procura ser sempre o maquinista do seu trem. Alguns
querem mais, querem ser o maquinista de todos os trens e há outros que até
conseguem conduzir muitos com sabedoria e compreensão, mas há aqueles que
conduzem pela força e de maneira estúpida, sem se importarem com os passageiros. De todo modo, ser
maquinista nunca é fácil.
O mais difícil, talvez, não é ser maquinista ou passageiro, mas estar
na posição de qualquer um deles sozinho lá na frente, sem alguém com quem comemorar ou compartilhar o caminho. Acredito que viajar sozinho é bacana mas a chave para se viver bem reside na ação de compartilhar o amor, a
amizade, a tolerância, a tristeza, a viagem e o que mais se desejar.
Já passei por um bocado estações e nelas encontrei pessoas cujas
influências, em maior ou menor intensidade, foram muito importantes para a
minha vida. Pessoas maravilhosas que foram seguindo comigo e acabei
seguindo-as por um caminho e outro, por muito ou pouco tempo, inclusive aquelas que por todos os motivos ou mesmo sem nenhum motivo acabaram ficando pelo caminho e nunca mais as encontrei. Algumas vezes nos perdíamos e em outras nos
encontrávamos para rir, conversar, debater, matar a saudade, tomar um vinho...
Mas passava um tempo e logo o trem aparecia para nos levar para outra estação e mais curvas, montanhas, chuvas, entardeceres e tudo mais. Depois de tanto tempo, estações, pessoas e saudades, fica a certeza de que nos, eu no caso, sempre nos transformamos e seguimos adiante a cada estação.
Bem, o trem vem vindo! Escuto o apito! Uma nova viagem está para começar. A curiosidade cresce e o coração bate mais rápido só em imaginar como será a próxima estação e o que vou encontrar por lá. Sinto que terei bons encontros com os amigos, a curtição dos filhotes, os almoços em família e quem sabe o calor de um novo amor... Agora, pensando bem, talvez fosse o caso de seguir um pouco mais e ir mais longe, deixar de ser o
maquinista só para escutar o apito e quem sabe, pegar o primeiro trem e seguir sem rumo.
Isso! É hora de botar o pé na estrada e avisar o maquinista para pegar forte porque este novo passageiro - eu, quer uma viagem com emoção. Quero sentar na janelinha para observar mais, rir mais, sentir mais, respirar mais livremente e viver intensamente cada paisagem, gosto, cheiro, lugar, diferenças, semelhanças, enfim, viver tudo aquilo que essa jornada puder proporcionar sem me preocupar se a próxima estação está chegando ou se vai chover.
Quero uma viagem para viver mais... Vamos?